Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira (Belém, 19 de fevereiro de 1954 – São Paulo, 4 de dezembro de 2011[1]), mais conhecido como Sócrates e também referido como Doutor Sócrates, Doutor ou Magrão, foi um futebolista e médico brasileiro.
Como futebolista, Sócrates é considerado como um dos maiores do futebol brasileiro[2] e, segundo a FIFA, um dos maiores do futebol mundial.[3] Maior ídolo do Corinthians – ao lado de Luisinho, Cláudio, Roberto Rivellino, Marcelinho Carioca, Neto, Baltazar e do Botafogo de Ribeirão Preto,[4] ao lado de seu irmão Raí e Zé Mario.
Sócrates notabilizou-se também por sua militância política, particularmente nos anos 1980, quando liderou um movimento pela democratização do futebol e participou do movimento pelas Diretas já!.
Casado com a jornalista, atriz e empresária Kátia Bagnarelli, era irmão de outro famoso futebolista, Raí. Ambos foram capitães da Seleção Brasileira de Futebol.
Sócrates também atuou como técnico de futebol, articulista e comentarista esportivo. Também era músico e, eventualmente, ator e produtor teatral. Em 2014, o jornalista e escritor Tom Cardoso lançou a biografia “Sócrates – A História e as Histórias do Jogador Mais Original do Futebol Brasileiro” (Editora Objetiva).
Sócrates foi a única unanimidade em uma pesquisa realizada, em 2006, pela Revista Placar para escolher o “time de todos os tempos” do Corinthians[5] Novamente, foi a única unanimidade, em uma pesquisa com especialistas, para escolher os dez maiores ídolos da história do Corinthians. Foi eleito em 1983 o melhor jogador sul-americano do ano e incluído pela FIFA, em 2004, na lista dos 125 melhores jogadores vivos da história. Era também considerado pela mídia especializada (CNN, World Soccer e Placar) como um dos grandes jogadores de todos os tempos. Era um atleta reconhecido por seu estilo elegante. Uma característica do jogador que marcou sua passagem pelo futebol foi a sua habilidade no uso do calcanhar. Mas era um jogador completo, marcava gols de falta, de cabeça e fora da área com frequência. Dava assistências perfeitas para seus companheiros marcarem muitos gols.
Em fevereiro de 2015, em seu tradicional quadro “The Joy of Six“, o jornal britânico The Guardian elegeu Sócrates como um dos seis esportistas mais inteligentes da história (ele é o único futebolista da lista). Para entrar nesta lista, o jornal levou em conta currículos que extrapolaram campos e quadras, tendo uma atuação preponderante em suas áreas e fora delas.
Biografia
Primeiros anos
Sócrates recebeu esse nome porque seu pai que era apaixonado por literatura, e estava lendo A República de Platão, na época do nascimento do filho. A família, originária de Messejana, Ceará, vivia em Igarapé-açu, Pará, quando o pai, funcionário público federal, foi transferido, mudando-se para Ribeirão Preto.[7]
Em Ribeirão Preto, ingressa no colégio dos Irmãos Maristas, onde começa a prática esportiva e se apaixona pelo futebol. Sócrates torcia pelo Santos.
Aos dez anos assiste a uma cena que influenciaria sua visão de mundo: vê o pai queimando seus amados livros, logo após o golpe militar de 1964.
Quando Sócrates completa doze anos, sua numerosa família já está completa, com seus cinco irmãos – Sóstenes, Sófocles, Raimundo filho, Raimar e Raí, então com um ano de idade.
Aos dezesseis jogava no time juvenil do Botafogo Futebol Clube de sua cidade. Aos dezessete, ingressa na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, continuando a jogar pelo Botafogo. No final de 1973, decide profissionalizar-se como jogador, sem abandonar o curso de medicina, que conclui em 1977, sem interromper sua carreira no futebol.
Vida pessoal
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira foi casado com a jornalista e empresária Kátia Bagnarelli Vieira de Oliveira. Seu filho, Gustavo Vieira de Oliveira, atua como executivo de futebol, tendo passagens pelo São Paulo Futebol Clube e pelo Santos Futebol Clube, clube de qual saiu recentemente.
Seu rendimento no futebol teria, segundo Flávio Gikovate, o psicólogo do Corinthians durante a Democracia Corintiana, ligação inversamente proporcional ao seu estado afetivo, jogando melhor quando estava triste e ou com problemas pessoais, e rendendo menos quando estava mais feliz e animado.[8]
Carreira futebolística
Jogador
No Botafogo Futebol Clube, de Ribeirão Preto, foi considerado um fenômeno desde o início, pois quase não treinava em função de frequentar o curso de medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto(USP). No ano de 1977 o Botafogo Futebol Clube contratou o treinador Jorge Vieira, que chegou ao clube dando o recado: “jogador que não treina, não joga”. Sócrates achou que não jogaria mais futebol, porém Jorge Vieira, reconhecendo o talento de Sócrates, deu tratamento diferenciado ao jogador. Naquele ano Sócrates foi, ao lado de Zé Mário, o principal jogador da histórica equipe botafoguense que conquistou a Taça Cidade de São Paulo (à época equivalente ao primeiro turno do Campeonato Paulista) em 1977, disputando o título com o São Paulo no Morumbi, e artilheiro do campeonato. A imprensa clamava por sua convocação à seleção brasileira, o que não viria a acontecer enquanto jogador do Botafogo. Ainda pelo Botafogo, também se destacou no Campeonato Brasileiro, marcando um célebre gol de calcanhar contra o Santos na Vila Belmiro. Em 1978, deixa o Botafogo e transfere-se para o Corinthians.[7]
Sócrates se firmaria no Corinthians em 1978, refazendo a dupla com seu ex-companheiro no Botafogo Geraldão. Mas seus grandes companheiros de ataque nesse time seriam Palhinha e o amigo Casagrande. Sócrates passou a se dedicar mais ao futebol depois que se formou em medicina (1977). Na Seleção Brasileira estrearia em 1979 em um amistoso contra o Paraguai.
Foi uma das estrelas de times famosos em nível nacional e mundial: a Seleção Brasileira de Futebol da Copa do Mundo FIFA de 1982 e do Corinthians da década de 1980, celebrado pelo movimento da Democracia Corintiana. Na Copa de 1982 marcou dois gols contra as respeitadas equipes da URSS e Itália, mas isso não bastou para o Brasil se sagrar campeão. Também teve excelente atuação na Copa América de 1983, onde a seleção brasileira foi vice-campeã. Aos 30 anos faz uma rápida e decepcionante passagem pelo Fiorentina da Itália, entre 1984 e 1985.
Na Copa do Mundo de 1986 estaria novamente em ação, mas já fora de forma ideal. Ficaria ainda marcado pelo pênalti desperdiçado contra a França, na decisão que desclassificou o Brasil. Antes de encerrar a carreira (1989), ainda atuaria no Flamengo, no Santos e no Botafogo de Ribeirão Preto.
Em 1988, Sócrates participou de um amistoso entre uma equipe de grandes ídolos do Corinthians em todos os tempos – que contou, inclusive, com a presença de Rivellino – e o “pai” do Timão do Parque São Jorge, o time inglês Corinthian-Casuals, que voltou ao Brasil após quase um século da primeira vez que esteve no país. Os brasileiros venceram por 1×0, com gol do próprio Sócrates. A pedido dos ingleses, Sócrates jogou cerca de 15 minutos na equipe do Corinthian-Casuals.[9]
Em 2004, atendendo ao convite de um amigo, participou de uma partida com a camisa do Garfoth Town, equipe da oitava divisão da Inglaterra.
Tanto o jogo com o time inglês Corinthian-Casuals como o com Garfoth Town, foram somente jogos festivos, porque oficialmente sua carreira encerrou em 1989 no Santos.
Técnico
Logo após encerrar a carreira de jogador, tornou-se técnico do Botafogo. Em 1996, foi também técnico da equipe equatoriana LDU, mas demitiu-se alegando falta de profissionalismo dos jogadores.[10][11]
Em 1999, atendendo a um convite de um antigo companheiro de seleção, Leandro, foi técnico da equipe carioca Cabofriense.[12]
Em 10 de junho de 2011, Sócrates recebeu um convite para treinar a Seleção de Cuba.[13]
Política e jornalismo
Fora do futebol, Sócrates sempre manteve uma ativa participação política, tanto em assuntos relacionados ao bem-estar dos jogadores quanto aos temas correntes do país. Na década de 1980, participou da campanha Diretas Já (1983– 1984) e foi um dos principais idealizadores do movimento Democracia Corintiana(1982– 1984), que reivindicava para os jogadores mais liberdade e mais influência nas decisões administrativas do clube.[14] Por suas atividades e opiniões políticas, chegou a ser “fichado” pela ditadura militar juntamente com seu colega de equipe e grande amigo, Casagrande.[15]
Durante sua segunda internação, em 2011, Sócrates declarou que gostaria de trabalhar com o presidente venezuelano Hugo Chávez em projetos sociais ligados ao esporte.[16]
Foi articulista da revista Carta Capital e do jornal Agora São Paulo e comentarista esportivo do programa Cartão Verde da TV Cultura.
Música e teatro
Em 1980 Sócrates gravou um LP de música sertaneja chamado Casa de Caboclo, pela gravadora RCA, com tiragem de 50.000 exemplares que rapidamente saiu de catálogo.[17][18] Em 1982, participou das gravações do LP Aquarela, do cantor Toquinho. [19]
Em 1983, Sócrates foi produtor de teatro, na peça Perfume de Camélia, com a atriz Maria Isabel de Lisandra. A peça foi exibida no teatro Ruth Escobar.[20][21][22]
Televisão
Em 1979, juntamente com seu companheiro de seleção brasileira e amigo, Zico, teve participação especial na telenovela brasileira Feijão Maravilha, da Rede Globo, onde contracenou com os atores Ivon Cury, Grande Otelo e Olney Cazarré.[23][24]
Literatura
Em 2002 lançou, em conjunto com o jornalista Ricardo Gozzi, pela Boitempo Editorial, o livro Democracia Corinthiana: A utopia em jogo, no qual conta a sua experiência durante o período da Democracia Corinthiana.[25]
Cinema
Em 8 de dezembro de 2011 foi lançado oficialmente o documentário Ser Campeão é Detalhe sobre a Democracia Corinthiana, com depoimentos de personagens da época, inclusive, de Sócrates, a quem o filme foi dedicado e que ganhou uma homenagem durante o lançamento.[26]
Medicina
Em 1992 inaugurou em Ribeirão Preto, com um investimento de 300.000 dólares, a Medicine Sócrates Center, uma clínica médica destinada a atender profissionais de diversas modalidades esportivas e também pacientes comuns.[27][28]
Alcoolismo e morte
Em agosto de 2011, Sócrates foi internado na UTI do Hospital Albert Einstein devido a uma hemorragia digestiva alta causada por hipertensão portal. Após essa primeira internação, admitiu que tinha problemas de alcoolismo.[29][30][31]
Após uma segunda internação em setembro,[32] em dezembro de 2011, Sócrates seria internado mais uma vez devido a uma suposta intoxicação alimentar, que acabou por se transformar em um grave quadro de choque séptico em razão de sua condição de saúde já debilitada.[33] Sócrates faleceu às 4:30 da manhã de 4 de dezembro de 2011, teve uma falência múltipla dos órgãos em decorrência do choque séptico.[34]
No dia de sua morte, o Corinthians sagrou-se pentacampeão brasileiro de futebol. Minutos antes do início da partida, jogadores e comissão técnica do Corinthians prestaram uma homenagem a Sócrates repetindo o gesto utilizado por ele nas comemorações de seus gols.[2][35]
Sócrates foi sepultado no dia 4 de dezembro de 2011, no cemitério Bom Pastor, na cidade de Ribeirão Preto[36] que, logo após o falecimento, decretou luto oficial.[37]
Repercussão da morte de Sócrates[editar | editar código-fonte]
O Botafogo de Ribeirão Preto, onde Sócrates iniciou sua carreira futebolística e a Fiorentina, clube italiano onde jogou na década de 80, decretaram luto oficial.
Por meio de nota oficial a Confederação Brasileira de Futebol determinou que em todos os jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011 se fizesse um minuto de silêncio para homenagear Sócrates e também homenageou o jogador em matéria publicada em seu site oficial
A FIFA, entidade máxima do futebol mundial, também prestou a devida homenagem a Sócrates.
O Corinthians, clube pelo qual Sócrates se tornou famoso no mundo inteiro, em nota oficial, homenageou o craque no site da agremiação:
Pelo Twitter, diversos esportistas tais como Ronaldo Fenômeno, Neymar, Van Persie, Gustavo Kuerten, Hélio Castro Neves e Steve Nash lamentaram a morte de Sócrates.[48]Equipes rivais do Corinthians tais como Santos[46] e São Paulo[47] também emitiram notas de pesar pela morte de Sócrates.
O ex-craque do Flamengo e da seleção brasileira, Zico, despediu-se de Sócrates, o seu velho amigo e companheiro dos gramados, em seu site oficial.[49]
A morte de Sócrates repercutiu na imprensa esportiva mundial em jornais como os espanhóis As[50] e Marca,[51] os britânicos The Sun[52] e BBC,[53] os italianos Gazzetta dello Sport,[54] Guerin Sportivo e La repubblica;[55] [56] os portugueses A Bola[57] e Record,[58] os argentinos El Gráfico[59] e Olé,[60] os estadunidenses CNN[61] e New York Times,[62] o inglês The Economist[63] e os franceses France Football[64] e Le Monde.[65]
Mino Carta, editor da revista CartaCapital, onde Sócrates era colunista, publicou um texto no site oficial da revista homenageando um de seus mais destacados membros.[66]
No mesmo dia, o SBT reprisou uma entrevista dada por Sócrates no programa De Frente com Gabi. No final da mesma, sua imagem foi paralisada em preto e branco e ficou no ar por um minuto em sua homenagem.
O programa esportivo Cartão Verde fez um programa especial em homenagem ao seu comentarista que trabalhou na emissora por cerca de quatro anos.[67]
Títulos e honrarias
- Campeonato Paulista:1979,1982,1983.
- Copa Da Feira De Hidalgo: 1981
- Taça Cidade de Porto Alegre 1983
- Copa Cidade de Turim: 1983
- x Copa dos Campeões 1984
- Taça Governador do Estado: 1984
- Taça da Inglaterra: 1981
- Taça da França: 1981
- Troféu Sport Billy Time Fair play Copa do Mundo 1982
- Troféu Sport Billy Time Fair play Copa do Mundo 1986
Campanhas de destaques
- 5ª Colocação Copa do Mundo: 1986
- 2ª Colocação Copa América: 1983
- 5ª Colocação Copa do Mundo: 1982
- 2º Lugar Mundialito de Montevidéu: 1980
- 3ª Colocação Copa América: 1979
Prêmios
- FIFA 100: 2004[68]
- Bola de Prata da Revista Placar: 1980[69]
- 6º Maior Jogador da Copa do Mundo FIFA – Espanha: 1982[70]
- FIFA XI – FIFA Team Vs Europe Team: 1982[71]
- Craque do ano – Revista Placar – (Eleito pela crítica e pelos leitores): : 1982[72]
- 5º Melhor jogador do Mundo eleito pela World Soccer: 1982[73]
- Craque do ano – Revista Placar – (Eleito pela crítica): : 1983[74]
- Melhor Jogador Sulamericano do ano eleito pelo jornal El Mundo: 1983[75]
- 4º Maior Craque do Brasil na década de 70 – Revista Placar – (eleito pela crítica):1979[76]
- 100 Craques do Século – World Soccer: 1999[77]
- CNN Sports – 100 Maiores das Copas: 2002[78]
Artilharia
- Campeonato Paulista: 1976 – 27 gols